terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Tudo de novo


Eis que as cinzas da última quarta-feira já se foram e só sobrou para nós enfrentar o ano que começa. E com muitos desafios para a nossa batucada! Nosso recente crescimento em tamanho, importância e reconhecimento nos trouxe novas oportunidades e responsabilidades.



Por isso, começamos esse ano de 2012 com a mesma vontade de sempre, mas com horizontes a mais para alcançar. Ainda nem tivemos tempo de ensaiar e já fizemos nossa primeira apresentação do ano, faremos a segunda no sábado e a terceira no dia 10. Ufa! Agenda cheia para quem ainda está na marola (pós) carnavalesca. 

Ao mesmo tempo, estamos, como sempre, recrutando novos ritmistas para a batucada com o início do ano letivo da Faculdade Cásper Líbero. Nesse próximo sábado, portanto, bixos e novos interessados terão a oportunidade de falar pessoalmente conosco, esclarecer dúvidas e entender um pouco melhor do que é a Bateria da Cásper na já tradicional Apresentação Oficial da Bateria. Todo mundo está convidado a participar! Nos encontraremos sábado, dia 03, às 9h00 nas mesas da lanchonete do 3º andar da Cásper. Pessoal de RTV que tem aula no mesmo horário, pode passar por lá, dar seu endereço de email e nós enviaremos todas as informações para vocês.

Esperamos por todos vocês. Pelos que farão parte da nossa família e pelos que gritarão conosco nas arquibancadas e festas desse ano. Só nós sabemos porque não ficamos em casa. 

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012






Ser ou não ser técnico?

Quando surgiram no começo dos anos 2000 no Rio de Janeiro, os ensaios técnicos não chamaram muito a atenção do público em geral. Com o passar dos carnavais, porém, tanto em  terras fluminenses quanto sob garoa paulistana, os treinos das escolas de samba foram se tornando cada vez mais populares. Hoje, arquibancadas do Rio e de São Paulo se enchem a cada conjunto de agremiações que se apresentam ainda em caráter provisório e antes do show principal.

É inegável também a contribuição que esses treinos trouxeram para o carnaval. Nessa ótima matéria de Vicente Almeida para o SRZD, diversos personagens dos desfiles pontuaram esses avanços em questões muito consideráveis e palpáveis dos quesitos.

Mas, quando é demais? Muito ensaio pode azedar o molho? Para efeito de comparação e antes de expressar minha opinião, analisei as duas grades oficiais de ensaios gerais para escolas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Vou dar uma voltinha, mas chegarei lá com argumentos. Observe: em São Paulo, temos 18 datas com escolas ensaiando no Anhembi enquanto o Rio tem 15 datas. Até aí, não há muita diferença, certo? Agora prestem atenção nos próximos números:

- Em São Paulo, vão ser realizados 56 ensaios de 22 escolas diferentes.
- No Rio, 33 ensaios para, também, 22 escolas diferentes.

Por quê o carnaval paulista precisa ensaiar mais do que o carioca? Não precisa. E me arrisco entendendo que tantos ensaios assim resultaram em poucos benefícios para o carnaval paulista e acabaram por gerar subterfúgios para as escolas ao longo dos anos.

Primeiramente, um número tão grande de ensaios banaliza o evento. Mobilizar comunidades inteiras que nem sempre estão perto do Anhembi para se deslocarem até o sambódromo 3 vezes (além do dia do desfile) em um período de um mês é injusto e desnecessário. Há fins de semana em que, por exemplo, 7 escolas estão encavaladas umas após as outras em ensaios que começam e terminam às pressas. Quase não há tempo para esquenta de bateria, sambas antigos ou outras tradições carnavalescas. Vale a pena ensaiar assim?

Parece que a pista comprimida entre as faixas amarelas virou extensão das quadras sociais e dos populares ensaios de rua. E o pior: sem comprovar evolução notória nos desfiles paulistas. O sistema de som continua falhando, a iluminação do sambódromo continua exagerada, escolas ainda tropeçam, literalmente, na evolução ao final de todo desfile e as comissões de frente continuam anos-luz atrás do que se vê no Rio de Janeiro. Ou seja, de tanto ensaio pouco se colheu.

As escolas já sabem desfilar, o público gosta dos ensaios técnicos. Por que não fazemos do evento algo mais valorizado e útil para o nosso carnaval? É só uma ideia, sambistas...

terça-feira, 13 de dezembro de 2011






São Paulo: do túmulo ao Filme


Quando o poetinha disse que a terra da garoa era também o túmulo do samba, uma pessoa não concordou. Não, não fui eu. Seu parceiro Toquinho, paulistano e com um pé no samba, com certeza não ficou feliz.

Mas, algumas décadas – e muitas explicações – depois das famosas aspas cunhadas por Vinícius, pergunto: vivemos aqui num eterno velório? É óbvio e límpido que não. Por mais que eu reconheça que a água Guanabara e as calçadas musicais banhem muito mais inspiração, a pauliceia desvairada também dá samba (e até um título pro Estácio).

Agora, há uma dúvida muito mais pulsante por essas bandas: se temos samba, quem seria nosso maior bamba? Alguns nomes viriam na comissão de frente das lembranças: Adoniran Barbosa, Osvaldinho da Cuíca, Carlão do Peruche, Paulo Vanzolini e o próprio Toquinho, provavelmente. Mas seria um deles o grande nome do samba paulista?

Em minha opinião, não. O título pertence a um santo que enxerga bem. Nascido em São João da Boa Vista (entenderam a piada? Han?), Geraldo Filme é daqueles personagens da história de que pouco se sabe. Nascido em 1928 e falecido em 1995, compôs seu primeiro samba aos 10 anos enquanto sua mãe fundava o primeiro cordão carnavalesco apenas para mulheres negras. A moradia na Barra Funda logo o levou para o largo da Banana e as rodas de samba.

Não demorou muito para que Geraldo começasse a frequentar o Unidos do Peruche e, posteriormente, todas as quadras das escolas que começavam a surgir junto com seu legado. Mas foi no Bixiga que Geraldo quedou-se. E ficou marcado. De sua caneta saíram os sambas-hino “Vai no Bixiga pra Ver” e “Silêncio no Bixiga”, além do samba-enredo “Solano Trindade, Moleque de Recife”, vice-campeão do carnaval de 1976.

Mas sua principal contribuição para o carnaval e o samba paulistas foge do papel e das letras. Geraldo foi historiador, pesquisador e profundo conhecedor das tradições do samba que nasceu no interior do Estado. Por isso, tornou-se referência da cultura popular negra na cidade e passou a atuar de maneira decisiva na organização do carnaval de São Paulo. Foi muito mais que compositor, sambista e personalidade. Foi à fundo no resgate e valorização da cultura do samba. 

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011






Post gigante: Minhas três vezes no vestibular da Cásper


É, gente, sumi. Peço desculpas. Estava cobrindo férias (ainda estou, para dizer a verdade), e cobrir férias faz com que não sobre tempo para comer, dormir e ter criatividade para os textos. Mesmo assim, o vestibular da Cásper está chegando e sei que alguns dos leitores vão fazer a prova ou trabalhar como fiscais pela primeira vez.

Não, eu não fui reprovada três vezes na Cásper! O texto é longo, mas espero que as minhas experiências ajudem.

2008

Subia correndo a ladeira que separa minha casa da estação de metrô mais próxima. Não me lembro de que horas eram (mas era tarde). Meu irmão, que estava fazendo vestibulinho para o colegial técnico, tinha esquecido em casa RG, comprovante de inscrição e até lápis e caneta. É, ele fez isso.

Naquele ano, ainda estava no meio do colegial. Só me inscrevi na Cásper como treineira mesmo – queria me acostumar à prova para me garantir no ano seguinte, que seria para valer. Para encontrar meu irmão, atrasei minha ida à Uni Sant’Anna em algumas estações de metrô e alguns minutos. Minutos preciosos, já que perdi o vestibular por chegar às 13h03. Para mim, o atraso nem importava tanto. Só que, entre as cerca de 15 pessoas que estavam daquele lado dos portões, pelo menos três iam prestar só Cásper. Perderam um ano por causa de alguns minutos.

(Como aquele devia ser meu dia de sorte, o metrô teve problemas na hora minha volta. O trajeto Tietê-Ana Rosa, que demora uns 20 minutos em dias normais, demorou mais de uma hora.)

2009

Dois dias antes do vestibular, tive um pesadelo com ele. Sonhei que entregava a folha de redação em branco para o fiscal da prova. Por incrível que pareça, fiquei calma na hora da redação de verdade. Tínhamos que escrever uma carta explicando o porquê de escolhermos fazer Comunicação. Parece simples, mas vários colegas, ao ler a proposta, ficaram sem saber o que fazer. Pudera: após 1001 treinos em dissertação, não é legal ser obrigado a escrever uma carta, gênero quase desprezado pelos professores de português em geral.

Naquela vez, cheguei vários minutos antes das 13h. Deu até para tomar uma Coca com a amiga que foi prestar Cásper comigo. Cheguei à sala com antecedência e peguei um lugar que achava legal. Mas tornou-se um péssimo lugar logo em seguida, quando chegou um cara que tinha dreads gigantes. O problema não eram os dreads, eram os dreads daquele cara – eles tinham um cheiro estranho, que ficava me distraindo o tempo todo. Sorte que ele foi o primeiro a ir embora da sala.

Tudo deu certo. Saí de lá de carona com um amigo, fomos comparando as respostas no caminho. Passei na Cásper, assim como uns outros 350 novos bixos 2010. Minha amiga não passou na Cásper e hoje, infelizmente, faz Mackenzie. :’(

2010

Se em 2008 eu cheguei ao vestibular depois das 13h, dois anos depois eu cheguei cedo demais. No meio da manhã, para a reunião de fiscais da prova. A grande maioria dos fiscais é formada por alunos e funcionários da Fundação Cásper Líbero. Em meio a um monte de rostos desconhecidos, vi a Laura Garcia, uma linda ritmista de PP*.

Depois do almoço, era hora de se preparar para receber os proto-bixos, vestibulandos, pessoas que dependem das folhas de papel que você está distribuindo. A minha sala só tinha amandas, alines e três andersons (os únicos homens de uma sala com algumas dezenas de pessoas).

Eu juro que não me lembro do fiscal que cuidou da minha prova da Cásper em 2009. Não sei nem se era homem ou mulher. A última coisa em que eu queria prestar atenção era a pessoa de colete e cara entediada na minha frente. Por isso, fiquei surpresa quando uma das pessoas presentes naquela sala me reconheceu depois nos ensaios da Bateria: a Amanda, bixete do ganzá em 2010.


*A quem já pedi desculpas por tê-la esquecido no almoço da última cervejada, né? <3

TL;DR: Dicas para o Vestibular da Cásper Líbero

1. Vá de metrô. No dia em que eu cheguei atrasada, algumas meninas que vieram de carro tinham perdido a hora porque estava acontecendo uma maratona (?) em alguma via principal da cidade. O local da prova é a cinco minutos da estação Tietê.

2. Mesmo indo de metrô, programe-se para chegar uma hora antes do horário em que os portões fecham. Metrô não pega trânsito, mas sempre pode acontecer alguma coisa.

3. Não hesite em mudar de lugar se uma pessoa perto de você tiver um cheiro desagradável, ficar mexendo as pernas, chutando a cadeira ou fungando. (Mesmo que isso soe meio antipático.)

4. Coisas tradicionais de qualquer vestibular: leia as questões com atenção, não estude na véspera, leve comida e água, vá ao banheiro antes, dê um mortal de costas, essas coisas.

5. Coloque título na redação! (A não ser que inventem de fazer uma carta de novo. Aí, não se esqueça de colocar local, data, essas coisas.)

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Mika é expert em cortar textos alheios, mas não sabe escrever nada curto. Enquanto não está falando um monte por aí, toca repinique na Bateria da Cásper.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011






L'amour est rouge!


Lá estava eu. Pensando no assunto do meu próximo texto. Eu tinha uma ideia em mente. Uma ideia sobre amizade, para aproveitar esse clima de férias de fim de ano, quando os ensaios ficam temporariamente escassos e sentimos falta das péssimas amizades que essa batucada nos proporciona... Acontece que um vento de paixão bateu em mim. Pois é, bateu forte. E descobri que preciso dividir com vocês essa história de amor Casperiana.

Tudo começou no ano de 2005. Os Jogos Universitários de Comunicação e Artes daquele ano seriam realizados, pela terceira vez, na amigável cidade de Guaratinguetá (do Tupi-Guarani: “Muitas Garças”), “Guará” para os íntimos. Tudo preparado, a Bateria seria conduzida pela primeira vez em um JUCA pelo Mestre Marcelo Pires, o Tieta. A Cásper pintava seus alunos de vermelho em direção ao Vale do Paraíba para mais um feriado inesquecível. Muita gente aproveitando aquele sol de dia e o frio gostoso à noite. Ele (nosso garoto), já veterano, estava lá, tomando sua cerveja quando a avistou. Foi forte como a colisão de duas galáxias. Intenso como o por-do-sol da Primavera. Foi uma paixão Casperiana à primeira vista. Timidez que foi superada pelo sorriso simpático e o olhar charmoso. As primeiras palavras, as primeiras risadas bobas... O primeiro toque ingênuo. Tudo aconteceu muito rápido. O beijo, a alegria em estar lá... e sabe como é amigo, a carne é fraca... (Aqui é o trecho onde a imaginação de vocês pode completar as lacunas dos acontecimentos naquela noite de quinta-feira do JUCA de 2005). Por três noites eles juntos dormiram. Por três noites ele era o cara mais feliz do mundo. Diziam que na Cásper nenhuma outra garota podia ser comparada a ela e, mesmo se não fosse, para ele era! Sem sombra de dúvida. Aliás, para ele nenhuma outra garota do JUCA podia ser comparada a ela. Mas como toda boa história de amor, uma hora há algo para atrapalhar. Chegou o domingo e, infelizmente, a volta à realidade. Por um ano inteiro ele não mais a viu. Por um ano ele virava as esquinas Casperianas na esperança de encontrá-la. Nada.

Chegou o ano de 2006. Ano de Copa do Mundo (aliás, que Copa do Mundo sem vergonha foi aquela) na Alemanha. Os Jogos Universitários de Comunicação e Artes daquele ano seriam realizados, pela primeira vez, na simpática cidade de Registro, no Vale do Ribeira. Lá estava nosso garoto. Será que os ventos soprariam novamente e a trariam de volta? Ele dizia, que sem ela a saudade batia forte. Dizia ele que a “saudade machuca”.

Batuqueiros, eu gostaria muito de terminar o texto escrevendo que ele a encontrou e que viveram mais um caso de amor. Mas, infelizmente, não é assim que acontece sempre. Ele não a encontrou. Ele vagou por quatro dias a sua procura. Amargurado, ele escreveu algumas palavras... essas palavras viraram um hino Casperiano. Um hino ao amor Casperiano. É por isso que cantamos e dançamos ao som dessas palavras... Ele nunca a esqueceu e provavelmente nunca a esquecerá. Ela dava mil beijos em sua nuca, afinal, ela era a Bella do JUCA.

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Boa viagem, minha linda!! Aproveita muito o Mississippi. Pode deixar que estamos cuidando direitinho da Bateria!

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Diego Pavão, batuqueiro apaixonado. Formado em Publicidade na Cásper, humilde, eterno pitaqueiro, historiador oficial e autointitulado "O melhor caixeiro que essa Bateria já viu".

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011






O francês que veio do passado

Dia desses eu estava voltando pra casa de carona com meu grande amigo – e também colunista deste blog – Vitor Vieira, o popular Vitinho, e de dentro de seu carro, acostumado com sambas-enredos cariocas, a música que se ouvia era completamente diferente. O assunto deu uma pausa e só aí pude ouvir com atenção. A música não era tão estranha assim. Eu conhecia aquilo. Mas não daquele jeito.
Perguntei quem era e ele me respondeu: “Ben L’Oncle Soul”.

Quem?

Ben L’Oncle Soul é um cantor francês que, pela sonoridade, pode-se dizer que veio de algum lugar do passado. Aquele passado de músicas agradáveis, não um passado psicodélico chato ou progressivo mala. Também se pode dizer isso por sua forma peculiar de se vestir: a gravata borboleta e o suspensório estão quase sempre presentes.
Mas não, ele não é do passado.
Tio Ben, como é chamado, vem ganhando cada vez mais notoriedade repaginando de Soul Music músicas consagradas da atualidade. Isso mesmo, ele pega músicas como Seven Nation Army, do White Stripes; I Kissed a Girl, da Kate Perry e Crazy, do Gnars Barkley e simplesmente transforma num Soul delicioso de se ouvir em qualquer momento do dia. Até mesmo nesse que vocês estão lendo. E nesse que vocês tão pensando também, seus leitores safados.

Além das incríveis versões, Ben L’Oncle Soul também tem e cria excelentes músicas próprias, como as lançadas ano passado.
O fato é: não adianta ficar de blábláblá. Vocês têm que ouvir. E se você já o conhece, tenho certeza que assina embaixo o que escrevo.

Abaixo estão as fantásticas versões de Otherside, do Red Hot Chili Peppers; Barbie Girl, do Aqua (sim!) e, pra menina nenhuma botar defeito, Say You’ll Be There, das Spice Girls.













Gostou? Quer baixar?
Ben L’Oncle Soul, de 2010 (covers e músicas próprias) 

Ben L’Oncle Soul, nascido Benjamin Duterde, tem 27 anos e, mesmo parecendo ter vindo do passado, está bem a frente de seu tempo.

domingo, 4 de dezembro de 2011


Os sambas do RJ para 2012


Com o lançamento do CD Oficial do Carnaval 2012 das escolas do Rio de Janeiro, os comentários sobre as obras começam a aparecer. Para não ficar fora do time dos palpiteiros, coloquei os meus aqui também. A ordem dos sambas foi escolhida pelo modo aleatório do meu reprodutor de música.

Comentem, expressem suas opiniões e atrevam-se, como eu, a dar notas para o trabalho dos outros ;)

Onde eu não deveria estar

BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS – NOTA: 9,5
Sim, em Nilópolis sabe-se fazer samba-enredo. O famoso chão nilopolitano abraça a todo e qualquer samba e, por isso, as obras que a atual campeã do carnaval carioca leva para avenida costumam ser densos, extensos. O samba sobre São Luís do Maranhão é mais um para essa coleção.

Estive nas semifinais de escolha de samba-enredo na quadra da escola e os dois sambas que juntaram-se nesse final eram ótimos. A junção, para quem ouviu os dois separadamente, soa um pouco estranha. Mas gosto dos refrões, das saídas melódicas e acho o samba a cara da Beija.

RENASCER DE JACAREPAGUÁ – NOTA: 9,4
A recém-promovida escola tem um enredo lúdico com o pintor Romero Britto. O samba poderia ser um pouco mais caprichado, ainda mais em se considerando as obras dos últimos carnavais de Jacarepaguá. Mas, de forma alguma, acho o samba ruim. Pelo contrário: com uma interpretação inspirada – como de costume – de Rogerinho Renascer e uma gravação honesta da bateria de Mestre Paulão, o samba não está entre os melhores da safra. E nem entre os piores.

A variação melódica da segunda do samba é interessante e emotiva. E as soluções de letra também não deixam a desejar. Falta, além de um refrão do meio um pouco mais trabalhado, só aquele algo a mais que, muitas vezes, é inexplicável.

UNIDOS DO PORTO DA PEDRA – NOTA: 9,0
O samba da escola está entre os piores da safra. Agora, vale uma ressalva enorme: a atuação de Wander Pires na gravação. Com tantos problemas pessoais e a constante troca de escolas, ele ainda tem uma voz potente e um jeito próprio de conduzir sambas-enredo – pelo menos nas gravações.

O samba em si é fraco, como são quase todos aqueles patrocinados por empresas. Falar sobre o danone, convenhamos, também não é das tarefas mais fáceis. Mesmo assim, há pontos positivos na gravação: acho o refrão de cima valente (apesar de pobre em letra) e a bateria de Mestre Tiago Diogo é, sem dúvidas, uma das mais gostosas de se ouvir.

ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA – NOTA: 9,1
Eu esperava mais. Um samba sobre o berço de tantas poesias - como é o Cacique de Ramos - criado por uma das mais inspiradas alas de compositores - como é a da Mangueira – TINHA que render mais. Fiquei com a impressão de algumas passagens forçadas de partidos cantados no pagode e a melodia é exatamente o que se esperava.

A nota baixa que coloquei aí acima é mais pela decepção do que pela qualidade do samba em si. Não o acho ruim, mas eu realmente esperei por um samba marcante. Não é o caso. E a ideia de colocar ícones do samba (Jorge Aragão, Dudu Nobre, Luiz Carlos da Vila e outros) não deu certo. Ouçam e comprovem.

UNIDOS DE VILA ISABEL – NOTA: 9,8
O André Diniz tem um adesivo no carro dele: “quer fazer samba-enredo? pergunte-me como.” Ok, talvez ele não tenha esse adesivo, mas poderia ter. Além de ser professor de história e profundo conhecedor da cultura do samba, ele é genial compositor. Poucos têm as sacadas que ele tem. E mais: poucos têm a coragem que ele tem para ousar.

O samba que o povo de Noel cantará esse ano é obra-prima. Da letra pesada que explica exatamente a sinopse à melodia ousada com contracantos e sem métricas prontas, o samba é uma pedrada. O refrão do meio com versos finalizados diferentes não é exatamente novo, mas ele o faz com perfeição. E parem para ouvir: o samba flui perfeitamente quase que sem rimas, ancorado no jogo de palavras e na melodia não pasteurizada.

Bom, ele ganhou sambas na Vila Isabel em 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2011 e agora 2012. Em 2010, ano em que a escola homenageou Noel, ele não entrou na disputa vencida por Martinho da Vila.

SÃO CLEMENTE – NOTA: 9,3
A irreverência é marca registrada da São Clemente e, mais uma vez, respondeu “presente” quando foi feita a chamada nesse samba de 2012 (péssima analogia, Vitinho!). Mas a escola trouxe um samba com a cara da São Clemente. Admiro esse orgulho e resgate de valores e características de bloco carnavalesco que a escola quase sempre traz pra Sapucaí.

O enredo sobre “uma grande aventura musical” é bom e o samba tem a alegria marcante da escola e uma forma melódica já conhecida, mas que me agrada muito. A obra é valente e ‘desfilável’, como costumo dizer, com expressões típicas dos carnavais de outrora. Sou saudosista (até porque, ser saudosista hoje em dia é ser de vanguarda).

ACADÊMICOS DO GRANDE RIO – NOTA: 8,8
O que dizer? Eu não entendi o enredo, não entendi a sinopse e não entendi o samba. Será que fui o único? Pelo que tenho lido e ouvido, não. Pois então, Caxias...what is going on? Essa coisa da superação é legal, tem a ver com o momento da escola e por tudo o que ela passou. Acho justo, digno e óbvio. Mas considerava a Grande Rio – desde o ano passado antes do incêndio, a propósito – uma das favoritas ao título do carnaval. Mas e agora? Com esse samba dá?

A melodia pesadíssima e manjada se mistura com uma letra que parece sempre estar repetindo o primeiro verso com outras palavras. Acrescente aí enxertos de gosto duvidosíssimo como: “Sei que meu coração vai me guiar/ Eu sigo em frente sem desanimar / Em Parintins um grande “festival” / Acreditar que pra sonhar não há limitações”. Da onde surgiu Parintins, minha gente? Enfim, eu acho o samba péssimo. Mas é só a minha opinião...

PORTELA – NOTA: 10,0
Para contrastar com o samba anterior, Madureira sobe o Pelô nesse sambaço! Tive o prazer de torcer para ele na final do concurso da Portela (excepcionalmente em Pilares) e me emocionei como todos os que lá estavam. O samba de Wanderley Monteiro, Luiz Carlos Máximo, Toninho Nascimento e Naldo é um tapa com luva de pelica nos padrões, no comodismo, na pressa para sambar. Cadenciado, com refrões e bis tão gostosos que é quase natural repeti-los a plenos pulmões.

Todas as vezes que o ouço, me remonto 30 anos atrás nos carnavais de antigamente. Na liberdade dos versos, nos iaiás e ioiôs que sempre foram personagens do samba e andavam renegados de seus papéis. O samba é simples e, talvez por isso, o melhor da década. Ache alguém em Oswaldo Cruz e Madureira que não cante esse samba com prazer e orgulhos portelenses e eu retiro minha nota. (e nem precisei falar do sempre ótimo Gilsinho)

UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR – NOTA: 9,4
O enredo é aquela coisa né...todo ano tem um desses. Mesmo com um “mais do mesmo”, o samba da Ilha não decepciona. Também não empolga. Entendo que junções sempre são delicadas e, por isso, tenho, antecipadamente, um pé atrás (sim, a contradição foi proposital).

Acho que o samba tem solução bastante elogiáveis na letra. O refrão da cabeça é prova disso, bem como o samba do meio: “vou botar molho inglês na feijoada/misturar chá com cachaça”.
A primeira do samba também conta bem o enredo antes de a segunda parte cair nas banalidades inevitáveis futebol, rock and roll e afins. Esperava também, uma atuação um pouco mais notável do bicampeão do Estandarte de Ouro Ito Melodia na gravação oficial.

ACADÊMICOS DO SALGUEIRO – NOTA: 9,6  
Mais uma final que acompanhei ao vivo na quadra e tenho convicção de que o samba escolhido era o melhor (dos que estavam na final, que fique claro). A obra escolhida tem o jeito da escola. Ou seja, tudo para dar certo na avenida para uma das favoritas ao título. Esse é daqueles que vai te conquistando quanto mais você o ouve – pelo menos aconteceu comigo. Saí cantando no amanhecer da Silva Teles os versos desse cordel em forma de samba.

O refrão do meio está entre os melhores do ano. A segunda do samba também é muito bem construída, com variações melódicas que conduzem para uma entrada altíssima de refrão principal. Tenho a impressão de que vai acontecer na avenida. Do jeito que o caldeirão gosta de ferver!

IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE – NOTA: 9,5
O samba é bom e não há como negar. O enredo de Jorge Amado ajuda, óbvio. E a final em Ramos contava com dois sambaços em minha opinião. O vencedor, admito, tem mais a cara e os trejeitos prontos para Dominguinhos do Estácio “deitar” na interpretação. Admiro o intérprete que, ao menos nas gravações, ainda contribuí para a obra mesmo com o avançar das primaveras.

O samba – e a qualidade crescente dos desfiles da escola nos últimos anos - tem tudo para trazer a Imperatriz de volta ao desfile das campeãs, possivelmente em um lugar melhor do que em 2011. O refrão principal é cativante e o samba curto e de fácil canto podem ser trunfos na avenida.   

MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL – NOTA: 9,6
Modéstia a parte, quando ouvi esse samba na disputa da Vila Vintém, coloquei minhas fichas nele. Não o acho fantástico, mas outro samba de qualidade do talentosíssimo Diego Nicolau (e parceiros). Aliás, durante a final na Portela, tive o prazer de perder alguns preciosos minutos conversando com seu pai, figura simpática e com uma visão singular dos sambas-enredo, que qualquer dia contarei sobre aqui.

Mas voltando ao que interessa (no momento): o talento é derramado sobre o samba no seu refrão do meio poético e melódico na medida certa. Portinari merece um samba como esse.

UNIDOS DA TIJUCA – NOTA: 9,2
Esse samba é polêmico – ao menos na minha cabeça. Não sei se gosto ou desgosto. Acho que ele é uma mistura de boas passagens com outras menos caprichadas. Quando ouvi a versão do compositor, não me encantei. Mas Bruno Ribas me fez cantar o samba na gravação oficial.

Recheado de referências a elementos do sertão e à obra de Luiz Gonzaga, o samba vai precisar da ajuda de Paulo Barros e da bateria Pura Cadência para almejar coisas maiores no carnaval. Mesmo na dúvida, não o acho definitivamente no nível de outros que já comentei aqui. Mas, vai saber né? Entender de samba que é bom eu não entendo mesmo...