terça-feira, 13 de dezembro de 2011






São Paulo: do túmulo ao Filme


Quando o poetinha disse que a terra da garoa era também o túmulo do samba, uma pessoa não concordou. Não, não fui eu. Seu parceiro Toquinho, paulistano e com um pé no samba, com certeza não ficou feliz.

Mas, algumas décadas – e muitas explicações – depois das famosas aspas cunhadas por Vinícius, pergunto: vivemos aqui num eterno velório? É óbvio e límpido que não. Por mais que eu reconheça que a água Guanabara e as calçadas musicais banhem muito mais inspiração, a pauliceia desvairada também dá samba (e até um título pro Estácio).

Agora, há uma dúvida muito mais pulsante por essas bandas: se temos samba, quem seria nosso maior bamba? Alguns nomes viriam na comissão de frente das lembranças: Adoniran Barbosa, Osvaldinho da Cuíca, Carlão do Peruche, Paulo Vanzolini e o próprio Toquinho, provavelmente. Mas seria um deles o grande nome do samba paulista?

Em minha opinião, não. O título pertence a um santo que enxerga bem. Nascido em São João da Boa Vista (entenderam a piada? Han?), Geraldo Filme é daqueles personagens da história de que pouco se sabe. Nascido em 1928 e falecido em 1995, compôs seu primeiro samba aos 10 anos enquanto sua mãe fundava o primeiro cordão carnavalesco apenas para mulheres negras. A moradia na Barra Funda logo o levou para o largo da Banana e as rodas de samba.

Não demorou muito para que Geraldo começasse a frequentar o Unidos do Peruche e, posteriormente, todas as quadras das escolas que começavam a surgir junto com seu legado. Mas foi no Bixiga que Geraldo quedou-se. E ficou marcado. De sua caneta saíram os sambas-hino “Vai no Bixiga pra Ver” e “Silêncio no Bixiga”, além do samba-enredo “Solano Trindade, Moleque de Recife”, vice-campeão do carnaval de 1976.

Mas sua principal contribuição para o carnaval e o samba paulistas foge do papel e das letras. Geraldo foi historiador, pesquisador e profundo conhecedor das tradições do samba que nasceu no interior do Estado. Por isso, tornou-se referência da cultura popular negra na cidade e passou a atuar de maneira decisiva na organização do carnaval de São Paulo. Foi muito mais que compositor, sambista e personalidade. Foi à fundo no resgate e valorização da cultura do samba. 

Um comentário:

  1. Parabéns pela escolha dessa coluna, péssimo!! Daria pra escrever ainda muito mais sobre o Geraldo Filme... Muito mais! O que o Geraldo diria se ouvisse os sambas que andam saindo das safras de São Paulo hj em dia ein?

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