segunda-feira, 30 de janeiro de 2012






Ser ou não ser técnico?

Quando surgiram no começo dos anos 2000 no Rio de Janeiro, os ensaios técnicos não chamaram muito a atenção do público em geral. Com o passar dos carnavais, porém, tanto em  terras fluminenses quanto sob garoa paulistana, os treinos das escolas de samba foram se tornando cada vez mais populares. Hoje, arquibancadas do Rio e de São Paulo se enchem a cada conjunto de agremiações que se apresentam ainda em caráter provisório e antes do show principal.

É inegável também a contribuição que esses treinos trouxeram para o carnaval. Nessa ótima matéria de Vicente Almeida para o SRZD, diversos personagens dos desfiles pontuaram esses avanços em questões muito consideráveis e palpáveis dos quesitos.

Mas, quando é demais? Muito ensaio pode azedar o molho? Para efeito de comparação e antes de expressar minha opinião, analisei as duas grades oficiais de ensaios gerais para escolas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Vou dar uma voltinha, mas chegarei lá com argumentos. Observe: em São Paulo, temos 18 datas com escolas ensaiando no Anhembi enquanto o Rio tem 15 datas. Até aí, não há muita diferença, certo? Agora prestem atenção nos próximos números:

- Em São Paulo, vão ser realizados 56 ensaios de 22 escolas diferentes.
- No Rio, 33 ensaios para, também, 22 escolas diferentes.

Por quê o carnaval paulista precisa ensaiar mais do que o carioca? Não precisa. E me arrisco entendendo que tantos ensaios assim resultaram em poucos benefícios para o carnaval paulista e acabaram por gerar subterfúgios para as escolas ao longo dos anos.

Primeiramente, um número tão grande de ensaios banaliza o evento. Mobilizar comunidades inteiras que nem sempre estão perto do Anhembi para se deslocarem até o sambódromo 3 vezes (além do dia do desfile) em um período de um mês é injusto e desnecessário. Há fins de semana em que, por exemplo, 7 escolas estão encavaladas umas após as outras em ensaios que começam e terminam às pressas. Quase não há tempo para esquenta de bateria, sambas antigos ou outras tradições carnavalescas. Vale a pena ensaiar assim?

Parece que a pista comprimida entre as faixas amarelas virou extensão das quadras sociais e dos populares ensaios de rua. E o pior: sem comprovar evolução notória nos desfiles paulistas. O sistema de som continua falhando, a iluminação do sambódromo continua exagerada, escolas ainda tropeçam, literalmente, na evolução ao final de todo desfile e as comissões de frente continuam anos-luz atrás do que se vê no Rio de Janeiro. Ou seja, de tanto ensaio pouco se colheu.

As escolas já sabem desfilar, o público gosta dos ensaios técnicos. Por que não fazemos do evento algo mais valorizado e útil para o nosso carnaval? É só uma ideia, sambistas...

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