Os sambas do RJ para 2012
Com o lançamento do CD Oficial do Carnaval 2012 das escolas do Rio de Janeiro, os comentários sobre as obras começam a aparecer. Para não ficar fora do time dos palpiteiros, coloquei os meus aqui também. A ordem dos sambas foi escolhida pelo modo aleatório do meu reprodutor de música.
Com o lançamento do CD Oficial do Carnaval 2012 das escolas do Rio de Janeiro, os comentários sobre as obras começam a aparecer. Para não ficar fora do time dos palpiteiros, coloquei os meus aqui também. A ordem dos sambas foi escolhida pelo modo aleatório do meu reprodutor de música.
Comentem, expressem suas opiniões e atrevam-se, como eu, a dar notas para o trabalho dos outros ;)
Onde eu não deveria estar |
BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS – NOTA: 9,5
Sim, em Nilópolis sabe-se fazer samba-enredo. O famoso chão nilopolitano abraça a todo e qualquer samba e, por isso, as obras que a atual campeã do carnaval carioca leva para avenida costumam ser densos, extensos. O samba sobre São Luís do Maranhão é mais um para essa coleção.
Estive nas semifinais de escolha de samba-enredo na quadra da escola e os dois sambas que juntaram-se nesse final eram ótimos. A junção, para quem ouviu os dois separadamente, soa um pouco estranha. Mas gosto dos refrões, das saídas melódicas e acho o samba a cara da Beija.
RENASCER DE JACAREPAGUÁ – NOTA: 9,4
A recém-promovida escola tem um enredo lúdico com o pintor Romero Britto. O samba poderia ser um pouco mais caprichado, ainda mais em se considerando as obras dos últimos carnavais de Jacarepaguá. Mas, de forma alguma, acho o samba ruim. Pelo contrário: com uma interpretação inspirada – como de costume – de Rogerinho Renascer e uma gravação honesta da bateria de Mestre Paulão, o samba não está entre os melhores da safra. E nem entre os piores.
A variação melódica da segunda do samba é interessante e emotiva. E as soluções de letra também não deixam a desejar. Falta, além de um refrão do meio um pouco mais trabalhado, só aquele algo a mais que, muitas vezes, é inexplicável.
UNIDOS DO PORTO DA PEDRA – NOTA: 9,0
O samba da escola está entre os piores da safra. Agora, vale uma ressalva enorme: a atuação de Wander Pires na gravação. Com tantos problemas pessoais e a constante troca de escolas, ele ainda tem uma voz potente e um jeito próprio de conduzir sambas-enredo – pelo menos nas gravações.
O samba em si é fraco, como são quase todos aqueles patrocinados por empresas. Falar sobre o danone, convenhamos, também não é das tarefas mais fáceis. Mesmo assim, há pontos positivos na gravação: acho o refrão de cima valente (apesar de pobre em letra) e a bateria de Mestre Tiago Diogo é, sem dúvidas, uma das mais gostosas de se ouvir.
ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA – NOTA: 9,1
Eu esperava mais. Um samba sobre o berço de tantas poesias - como é o Cacique de Ramos - criado por uma das mais inspiradas alas de compositores - como é a da Mangueira – TINHA que render mais. Fiquei com a impressão de algumas passagens forçadas de partidos cantados no pagode e a melodia é exatamente o que se esperava.
A nota baixa que coloquei aí acima é mais pela decepção do que pela qualidade do samba em si. Não o acho ruim, mas eu realmente esperei por um samba marcante. Não é o caso. E a ideia de colocar ícones do samba (Jorge Aragão, Dudu Nobre, Luiz Carlos da Vila e outros) não deu certo. Ouçam e comprovem.
UNIDOS DE VILA ISABEL – NOTA: 9,8
O André Diniz tem um adesivo no carro dele: “quer fazer samba-enredo? pergunte-me como.” Ok, talvez ele não tenha esse adesivo, mas poderia ter. Além de ser professor de história e profundo conhecedor da cultura do samba, ele é genial compositor. Poucos têm as sacadas que ele tem. E mais: poucos têm a coragem que ele tem para ousar.
O samba que o povo de Noel cantará esse ano é obra-prima. Da letra pesada que explica exatamente a sinopse à melodia ousada com contracantos e sem métricas prontas, o samba é uma pedrada. O refrão do meio com versos finalizados diferentes não é exatamente novo, mas ele o faz com perfeição. E parem para ouvir: o samba flui perfeitamente quase que sem rimas, ancorado no jogo de palavras e na melodia não pasteurizada.
Bom, ele ganhou sambas na Vila Isabel em 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2011 e agora 2012. Em 2010, ano em que a escola homenageou Noel, ele não entrou na disputa vencida por Martinho da Vila.
SÃO CLEMENTE – NOTA: 9,3
A irreverência é marca registrada da São Clemente e, mais uma vez, respondeu “presente” quando foi feita a chamada nesse samba de 2012 (péssima analogia, Vitinho!). Mas a escola trouxe um samba com a cara da São Clemente. Admiro esse orgulho e resgate de valores e características de bloco carnavalesco que a escola quase sempre traz pra Sapucaí.
O enredo sobre “uma grande aventura musical” é bom e o samba tem a alegria marcante da escola e uma forma melódica já conhecida, mas que me agrada muito. A obra é valente e ‘desfilável’, como costumo dizer, com expressões típicas dos carnavais de outrora. Sou saudosista (até porque, ser saudosista hoje em dia é ser de vanguarda).
ACADÊMICOS DO GRANDE RIO – NOTA: 8,8
O que dizer? Eu não entendi o enredo, não entendi a sinopse e não entendi o samba. Será que fui o único? Pelo que tenho lido e ouvido, não. Pois então, Caxias...what is going on? Essa coisa da superação é legal, tem a ver com o momento da escola e por tudo o que ela passou. Acho justo, digno e óbvio. Mas considerava a Grande Rio – desde o ano passado antes do incêndio, a propósito – uma das favoritas ao título do carnaval. Mas e agora? Com esse samba dá?
A melodia pesadíssima e manjada se mistura com uma letra que parece sempre estar repetindo o primeiro verso com outras palavras. Acrescente aí enxertos de gosto duvidosíssimo como: “Sei que meu coração vai me guiar/ Eu sigo em frente sem desanimar / Em Parintins um grande “festival” / Acreditar que pra sonhar não há limitações”. Da onde surgiu Parintins, minha gente? Enfim, eu acho o samba péssimo. Mas é só a minha opinião...
PORTELA – NOTA: 10,0
Para contrastar com o samba anterior, Madureira sobe o Pelô nesse sambaço! Tive o prazer de torcer para ele na final do concurso da Portela (excepcionalmente em Pilares) e me emocionei como todos os que lá estavam. O samba de Wanderley Monteiro, Luiz Carlos Máximo, Toninho Nascimento e Naldo é um tapa com luva de pelica nos padrões, no comodismo, na pressa para sambar. Cadenciado, com refrões e bis tão gostosos que é quase natural repeti-los a plenos pulmões.
Todas as vezes que o ouço, me remonto 30 anos atrás nos carnavais de antigamente. Na liberdade dos versos, nos iaiás e ioiôs que sempre foram personagens do samba e andavam renegados de seus papéis. O samba é simples e, talvez por isso, o melhor da década. Ache alguém em Oswaldo Cruz e Madureira que não cante esse samba com prazer e orgulhos portelenses e eu retiro minha nota. (e nem precisei falar do sempre ótimo Gilsinho)
UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR – NOTA: 9,4
O enredo é aquela coisa né...todo ano tem um desses. Mesmo com um “mais do mesmo”, o samba da Ilha não decepciona. Também não empolga. Entendo que junções sempre são delicadas e, por isso, tenho, antecipadamente, um pé atrás (sim, a contradição foi proposital).
Acho que o samba tem solução bastante elogiáveis na letra. O refrão da cabeça é prova disso, bem como o samba do meio: “vou botar molho inglês na feijoada/misturar chá com cachaça”.
A primeira do samba também conta bem o enredo antes de a segunda parte cair nas banalidades inevitáveis futebol, rock and roll e afins. Esperava também, uma atuação um pouco mais notável do bicampeão do Estandarte de Ouro Ito Melodia na gravação oficial.
ACADÊMICOS DO SALGUEIRO – NOTA: 9,6
Mais uma final que acompanhei ao vivo na quadra e tenho convicção de que o samba escolhido era o melhor (dos que estavam na final, que fique claro). A obra escolhida tem o jeito da escola. Ou seja, tudo para dar certo na avenida para uma das favoritas ao título. Esse é daqueles que vai te conquistando quanto mais você o ouve – pelo menos aconteceu comigo. Saí cantando no amanhecer da Silva Teles os versos desse cordel em forma de samba.
O refrão do meio está entre os melhores do ano. A segunda do samba também é muito bem construída, com variações melódicas que conduzem para uma entrada altíssima de refrão principal. Tenho a impressão de que vai acontecer na avenida. Do jeito que o caldeirão gosta de ferver!
IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE – NOTA: 9,5
O samba é bom e não há como negar. O enredo de Jorge Amado ajuda, óbvio. E a final em Ramos contava com dois sambaços em minha opinião. O vencedor, admito, tem mais a cara e os trejeitos prontos para Dominguinhos do Estácio “deitar” na interpretação. Admiro o intérprete que, ao menos nas gravações, ainda contribuí para a obra mesmo com o avançar das primaveras.
O samba – e a qualidade crescente dos desfiles da escola nos últimos anos - tem tudo para trazer a Imperatriz de volta ao desfile das campeãs, possivelmente em um lugar melhor do que em 2011. O refrão principal é cativante e o samba curto e de fácil canto podem ser trunfos na avenida.
MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL – NOTA: 9,6
Modéstia a parte, quando ouvi esse samba na disputa da Vila Vintém, coloquei minhas fichas nele. Não o acho fantástico, mas outro samba de qualidade do talentosíssimo Diego Nicolau (e parceiros). Aliás, durante a final na Portela, tive o prazer de perder alguns preciosos minutos conversando com seu pai, figura simpática e com uma visão singular dos sambas-enredo, que qualquer dia contarei sobre aqui.
Mas voltando ao que interessa (no momento): o talento é derramado sobre o samba no seu refrão do meio poético e melódico na medida certa. Portinari merece um samba como esse.
UNIDOS DA TIJUCA – NOTA: 9,2
Esse samba é polêmico – ao menos na minha cabeça. Não sei se gosto ou desgosto. Acho que ele é uma mistura de boas passagens com outras menos caprichadas. Quando ouvi a versão do compositor, não me encantei. Mas Bruno Ribas me fez cantar o samba na gravação oficial.
Recheado de referências a elementos do sertão e à obra de Luiz Gonzaga, o samba vai precisar da ajuda de Paulo Barros e da bateria Pura Cadência para almejar coisas maiores no carnaval. Mesmo na dúvida, não o acho definitivamente no nível de outros que já comentei aqui. Mas, vai saber né? Entender de samba que é bom eu não entendo mesmo...
Só ouvi Portela e Tijuca. Portela é sensacional. Tijuca, que sempre gosto dos sambas, eu não gostei. Ainda mais pq eles dizem que são contra o Pavão e eu gosto do Pavão.
ResponderExcluirComentários altamente pertinentes e bem explicado. Tenho poucos pontos de discordância.
ResponderExcluirAbs Vitinho
ps: vc é bem melhor dando valor ao samba carioca.