quarta-feira, 9 de novembro de 2011






Cavaco de dois dedos

Estava eu outro dia assistindo – e me deliciando – com uma edição do ótimo programa Sarau, da Globo News, quando me veio a ideia dessa coluna. Alcione, Nelson Sargento, Afonso Machado e Haroldo Costa e o apresentador Chico Pinheiro relembravam histórias e contemplavam a obra de Nelson Cavaquinho (assista aqui). Tenho pra mim que o mangueirense é um dos compositores mais injustiçados do samba. Sim, pois desconhecer ou mitigar suas poesias musicadas é uma injustiça velada.

Nelson Antônio da Silva entrou para o samba a trabalho. Literalmente. Obrigado por seu pai, ingressou na guarda montada da polícia do Rio de Janeiro e tinha como função patrulhar os botecos dos morros cariocas. Cumpria sua tarefa magistralmente: sentava às mesas, molhava a inspiração de cerveja gelada e compunha com os novos amigos. Contam, inclusive, que ele teve que largar o emprego depois que seu cavalo chegou sozinho ao quartel, dizem, cansado de esperar pelo dono que não se levantava da boemia.

No morro da Mangueira, conheceu Cartola, Carlos Cachaça e seu grande parceiro de composições Guilherme de Brito. Aprendeu a tocar cavaco dedilhando o instrumento apenas com dois dedos e passou a viver com o dinheiro das vendas de sambas que compunha. Dentre as que não vendeu, obras primas como “Quando eu me chamar saudade”, “A Flor e o Espinho” (dos versos elogiados por Manuel Bandeira) e “Folhas Secas”, quase um hino da escola de samba mais popular do Brasil.

Nelson estaria fazendo 100 anos em 2011 e, apesar da homenagem de sua escola no carnaval desse ano, acredito que falte a ele o status – merecido – de nomes como Noel Rosa, Cartola, Candeia e Pixinguinha. 

2 comentários:

  1. Eles chegaram juntos no morro. O cavaleiro atraído pelo som que vinha lá de cima. O cavalo retornou ao quartel... o cavaleiro, não! Preferiu ficar por lá mesmo... A guarda montada demitiu o soldado... o samba ganhou nelson hehehe

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  2. Aliás, o enredo da Mangueira desse ano sobre Nelson, dizem, foi um enorme mea culpa para compensar o fato de não terem homenageado Cartola em seu centenário... um grande pecado da Estação Primeira

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